A escassez de mão de obra no mercado de trabalho tem acelerado as contratações formais de estrangeiros no Brasil. De janeiro a agosto deste ano, entre admissões e demissões, o saldo de imigrantes trabalhando no País cresceu 53% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Esse crescimento tem sido puxado principalmente pela contratação de venezuelanos e cubanos, que encontram oportunidades principalmente nas regiões Sul e Sudeste, onde a oferta de vagas é ampla e os índices de desemprego estão abaixo da média nacional. No trimestre terminado em agosto, a taxa de desemprego no Brasil foi de 6,6%, o menor resultado para o período do ano em toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estoque total de estrangeiros com carteira assinada no mês passado atingiu 321.196 trabalhadores. Essa é a maior marca da série iniciada em janeiro de 2020 pela nova metodologia do Caged, aponta um levantamento feito pela LCA Consultores a pedido do Estadão. O estudo considerou dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), atualizados pelo saldo de contratações mensais do Caged.
Além do estoque, a taxa de crescimento anual de estrangeiros empregados mês a mês também foi recorde em agosto deste ano: avançou 27,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Esse resultado ficou quase dez pontos acima do aumento registrado em agosto de 2022 na comparação com igual período de 2021 (17,9%).
O mercado de trabalho aquecido é uma das principais razões para esse crescimento. “O mercado de trabalho aquecido é um motivo pelo qual tem sido registrado esse crescimento”, afirma o economista da LCA Consultores, Bruno Imaizumi, responsável pelo levantamento. Ele pondera, no entanto, que o número de estrangeiros ocupados pode ser maior, pois muitos estão trabalhando informalmente.
Por exemplo, na consultoria RHBrasil, uma das cinco maiores consultorias de recrutamento e seleção do País, o número de estrangeiros contratados mais que dobrou neste ano. Entre janeiro e julho, a consultoria fechou 907 contratos de trabalho com estrangeiros, um volume 123% maior em relação ao mesmo período do ano anterior.
A BRF, gigante de proteína animal com indústrias no Sul e no Centro-Oeste, tem sentido na prática os efeitos da escassez de mão de obra nesses locais. Desde 2019, a companhia tem um programa voltado para contratar imigrantes, e as admissões têm sido crescentes. Atualmente, são 8,3 mil imigrantes contratados num total de 100 mil funcionários da empresa.
Além da BRF, outras grandes empresas têm adotado estratégias semelhantes. A construtora Tenda, por exemplo, começou a contratar refugiados na pandemia e constatou que a rotatividade do refugiado estrangeiro era 67% menor comparada à do trabalhador brasileiro na construção civil.
Sim, os trabalhadores estrangeiros ainda representam cerca de 0,6% do total de empregados formais no Brasil, um número pequeno e insuficiente para suprir a falta de mão de obra qualificada. Contudo, o crescimento tanto do estoque quanto do saldo de contratações neste ano reflete a situação de aperto na oferta de trabalhadores.
Por outro lado, esses trabalhadores muitas vezes acabam se submetendo a diversos tipos de trabalho para sobreviver. Muitas vezes, suas qualificações estão bem aquém do potencial que podem oferecer. "Tem professoras venezuelanas trabalhando como empregadas domésticas e pessoas com curso superior em canteiros de obras, até por causa da revalidação do diploma", diz Gelson Santana, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Porto Alegre (RS) e secretário Nacional da Construção da UGT.
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